Entrevista com Nuno Moura, da Nike
A memória dos primeiros sneakers Jordan ainda perdura, até aos dias de hoje. Na verdade, Nuno Moura estava longe de pensar quando comprou os Air Jordan XIII que um dia ia trabalhar na Nike.
Profissional de comunicação e de marketing, Nuno Moura conta com um percurso invejável, que já passou por Londres, Lisboa, e agora acontece nos Estados Unidos.
Um headhunter e o desafio certo levaram-no a ser hoje responsável pela estratégia de marketing digital da Nike para o Mundial de Futebol de 2014.
Entre a envolvente profissional, a paixão pelos sneakers e a partilha de um pouco daquilo que é sentir isso da “urbanidade”, a entrevista com Nuno Moura é feita para ler, sem pressas.
Como é que foste parar à Nike?
A correr, como não poderia deixar de ser (risos…). Na verdade foi algo inesperado e repentino. Levo quase uma década de trabalho nas indústrias da comunicação e marketing.
Passei um largo período da minha carreira a trabalhar para a MTV nos headquarters europeus em Londres.
Uma casa-chave no meu processo de maturação profissional e onde me especializei no consumidor jovem. A audiência, na minha óptica, mais exigente e perspicaz, mas extremamente interessante de trabalhar.
Obriga-te a ser super criativo, inovativo e sempre muito autêntico em tudo o que executas. Passei, também, por algumas das agências de marketing mais relevantes da indústria digital.
Aí, elevei meteoricamente as minhas competências no digital, na media social, desde a vertente mais estratégica à execução dos planos, passando pelo desenvolvimento de soluções inovadoras no mobile e web.
Liderei a produção de projectos internacionais muito interessantes para marcas como a Coca-Cola, Fiat, Alfa Romeo, Pantene, Head n’ Shoulders, Malibu, T-Mobile, entre outras. E que me enchem de orgulho.
Por outro lado levo uma vida inteira dedicada ao desporto de alta competição nas modalidades de andebol e rugby (um abraço para os meus ex-companheiros do Técnico).
Com o futebol sempre presente na minha vida de forma mais amistosa. Enquanto espectador sigo religiosamente uma multitude de modalidades.
Essa combinação de experiência profissional e amor ao desporto parece ter despertado o interesse da Nike onde, em uma operação relâmpago, fui recrutado por um Head-hunter.
Enquanto apaixonado por Marketing e Desporto a Nike materializa um sonho.
Nas duas vertentes trabalhas com a elite, com os melhores e mais conceituados profissionais e atletas a nível global. Viajas o mundo, contactas com indivíduos fora de série e trabalhas em projectos únicos que só a Nike te poderia proporcionar.
Neste momento estou a finalizar a estratégia global de marketing digital para o Mundial 2014 e a iniciar a fase de execução que levara a Nike Football a estender as barreiras da comunicação e inovação a territórios ainda por explorar.
Trabalho árduo, muita responsabilidade, mas extremamente gratificante.
Qual é a tua relação com o mundo dos sneakers – és fã, ligas muito a novos lançamentos e afins ou nem por isso?
Adoro sneakers. Uso sneakers todos os dias. Apenas não durmo com eles. Só os troco pela bela da havaiana em período de férias, ou por um par de sapatos para um casamento… mas apenas se a noiva fizer imensa questão. Ah!
De facto, sempre estive muito ligado ao mundo dos sneakers. Tenho muitos amigos que trabalham na indústria, já partilhei casa com alguns deles.
Hoje em dia sou bastante criterioso na compra de novos sneakers. Depois dos primeiros 200 pares, o espaço em casa começa a escassear.
Estabeleci uma regra que me tem ajudado bastante a economizar m2. Por cada par novo que entra em casa, um outro terá que sair.
Dito isto, compro (ou me presenteiam) 2 a 3 pares de sneakers todos os meses.
Ainda te lembras do primeiro par de sneakers que tiveste?
Não me recordo do meu primeiro par de sneakers. Foram demasiados no decorrer dos anos. Mas os meus primeiros Jordan foram os Jordan 13.
Tive sneakers de todas as marcas, gostos e feitios. Com pump e sem pump. Acabei sempre por voltar a Nike.
A minha marca de eleição, mesmo antes de integrar a sua estrutura, e da qual não abdico. Gosto muito dos Air Force 1, os “uptowns” como são conhecidos em NYC.
Mas talvez pela minha proximidade com Londres, e com a íntima ligação que tem com a sua cultura, acumulei e apaixonei-me pelos Air Max.
Actualmente os Flyknit da Nike estão a conquistar o meu coração e, obviamente, o meu pé.
É possível elaborares um pouco sobre o que é bom de ver em termos de cultura urbana em Portugal, e aquilo que pode ser melhorado?
Temos artistas bem interessantes no mundo da cultura urbana em Portugal. Gosto imenso do Alexandro Farto, aka VHILS, que é provavelmente um dos nomes que mais tem exportado a arte urbana nacional.
Um artista que detém uma técnica distinta de todos os outros. Fura paredes, criando autênticas obras de arte… o trabalho do VHILS pode ser visto nos 4 cantos do mundo.
Recomendo uma visita ao site deste globetrotter: http://alexandrefarto.com/
Outro nome interessante é o do Diogo Machado – “Add fuel to the fire” – que sempre fez intervenções urbanas, mas recentemente usou o azulejo como suporte para os seus trabalhos.
Um bom artista que, também, já iniciou o seu processo de internacionalização. https://www.facebook.com/addfuel?ref=ts&fref=ts
Paulo Arraiano (http://www.pauloarraiano.com/) e outro artista q faz muitas intervenções urbanas. Também se distingue pelo seu estilo particular e procura sempre novos suportes para fazer as suas ilustrações coloridas.
Seria óptimo se reservassem mais espaços onde o trabalho de artistas com qualidade possa ser executado de forma legal e exposto ao publico.
Seria muito bom ver os bons artistas nacionais a receberem o mesmo tipo de apoio e reconhecimento que um Banksy recebe no UK.
E os EUA? É mesmo verdade que estão muito à frente? Ou é muito show e pouca bola?
A cena cultural urbana nos Estados Unidos tende a liderar muitas das tendências que o resto do mundo posteriormente adopta.
No entanto, fenómeno curioso, observa-se que muitos desses movimentos são então modificados e trabalhados para que se adequem à realidade cultural local, aos seus protagonistas e filosofia.
O que posso interpretar das minhas viagens por variadíssimos mercados é que nos Estados Unidos, eventos culturais de cariz urbano surgem com mais frequência e consistência.
Fala-nos sobre três peças essenciais do teu guarda-roupa e três discos ou livros (ou outros itens “culturais”) que não consegues deixar de lado.
Guarda-roupa: Selvedge denim jeans, Sneakers Nike Flyknit e a Fuelband original preta.
Um filme: Lost in Translation. Um disco: Nirvana – Nevermind. Um livro: À espera no centeio do Salinger.
E o futuro? Portugal vai continuar a ser só para férias?
Devo ser masoquista pois quero certamente um dia voltar ao país que mais amo e que promovo cá fora como o mais próximo que existe do paraíso.
Neste momento contento-me com visitas relâmpago que faço quando em trabalho na Europa.
Estou a trabalhar em projectos hiper interessantes como é o caso do Mundial 2014 no Brasil, onde me desloco com frequência, pelo que a urgência de voltar ainda não é incontrolável.
Mas nunca se sabe quando uma proposta interessante nos faz regressar antes do esperado.